sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O Comedor de Couves


A horta do senhor Jaime era o seu orgulho e alegria. Composta por filas ordenadas de cenouras, couves, feijão-verde, rabanetes e ervilhas, não se via uma erva daninha, uma lesma ou uma lagarta.
Uma manhã, o senhor Jaime apanhou um susto. As folhas de uma das couves haviam sido depenicadas! Na manhã seguinte, uma couve inteira foi comida. Nessa noite, o senhor Jaime preparou umas sandes e um termo com café e ficou no alpendre, a vigiar a horta.
Já a Lua ia alta, quando viu algo a saltar na horta. Era um coelho castanho que pulava, alegremente, pelas couves e as depenicava.
Momentos depois, encontrou-se, olhos nos olhos, com o senhor Jaime, que saíra devagarinho do alpendre para o apanhar.
- Que estás a fazer? - perguntou, zangado, ao coelho.
- Sou apenas um coelhinho pobre e esfomeado - soluçou o coelho -, e tentou sobreviver nestes tempos difíceis!
- Representas muito bem - comentou o senhor Jaime, a sorrir -, mas não me convences.
Não pareces muito esfomeado.
Na verdade, o comedor de couves era bastante gordinho. O coelho olhou, com astúcia, para o senhor Jaime e mudou de estratégia.
- Peço desculpa - disse, com humildade -, mas estas couves são as maiores, mais tenras, mais suculentas e deliciosas que eu já comi. Não consegui resistir-lhes.
- Hum! - murmurou o senhor Jaime, sentindo-se satisfeito.
- Não é comigo que se deve preocupar - continuou o coelho -, é com os meus primos. São centenas. Quando lhes falar destas couves...
O senhor Jaime olhou para o coelho, e este olhou para trás.
- E se eu plantar algumas couves muito, muito especiais, só para ti - propôs o lavrador -, achas que conseguirás afastar-te destas, que são tão normais?
- Se eu estiver ocupado a comer as suas couves muito, muito especiais, não terei tempo para olhar para estas - respondeu o coelho, a sorrir.
O senhor Jaime e o coelho vivem hoje felizes, lado a lado.
E o espertalhão do coelho está ainda mais gordinho.

1 comentário:

  1. Parabéns pelo blogue, está um espectáculo!
    Continua com este bom trabalho.
    Beijinhos
    Carlos Jerónimo

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