quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A Bela Adormecida


Há muito, muito tempo, num país distante, os reis tiveram uma lindíssima filha que os encheu de felicidade.
- Daremos uma festa, disse o rei, e convidaremos as fadas para serem as madrinhas.
No dia da festa, as fadas aproximaram-se do berço da princesa e cada uma delas ofereceu-lhe um dom. Eu concedo-te o dom da virtude – disse uma fada. Eu concedo-te o dom da inteligência – disse outra. E eu o dom da beleza – disse uma terceira.
E assim fizeram todas as outras.
Já só faltava uma fada para entregar o seu presente quando se ouviu um grande trovão e uma horrível bruxa entrou no salão do palácio como um vendaval.
- Antes de fazeres quinze anos, vais picar-te com um fuso e morrerás!, disse a bruxa à menina. É este o meu presente! E assim pagarão o desprezo com que me trataram por não me terem convidado para a festa! E depois desta assombrosa maldição, saiu do palácio deixando todos aterrorizados.
A rainha desmaiou. O rei chorava. Por sorte, uma fada ainda não tinha concedido o seu dom e disse:
- Um momento, ainda falta o meu presente.
Eu não tenho poder para desfazer a maldição – continuou a fada, mas posso oferecer à princesa o dom do sono profundo. Assim, quando ela se picar com o fuso não morrerá, ficará apenas a dormir. E neste estado irá permanecer até que um príncipe valente a despertar com um beijo!
Apesar disso, o rei mandou queimar todos os fusos do reino, e ordenou, sob pena de morte, que ninguém usasse o fuso para fiar.
O tempo passou e chegou o dia da princesa fazer quinze anos.
No palácio ia fazer-se uma festa e havia tanta agitação que ninguém deu conta de uma velha que se aproximava da jovem.
- Oh, querida princesa! – disse a velha. Aceita este ramo de rosas que esta pobre mulher te oferece!
A princesa aceitou o presente. Mas ao pegar no ramo picou o dedo num fuso que estava escondido entre as flores e caiu desmaiada no chão.
A bruxa retirou então o seu disfarce de velha e depois de lançar um grito de vitória, saiu a voar. A maldição tinha sido cumprida!
Ao saber da notícia, ficaram todos tão tristes que as fadas decidiram colocar todo o reino num sono profundo como o da princesa. E assim ficariam até que a maldição acabasse!
Um grande bosque de espinhos cresceu à volta o palácio e era tão denso que enchia de feridas quem tentasse atravessá-lo.
Passaram-se mais de cem anos e as pessoas foram-se esquecendo da sua existência.
Um dia, um príncipe perguntou a um aldeão que palácio era aquele que se via no meio do bosque. Então, o homem contou-lhe que segundo uma lenda, havia ali uma princesa encantada.
Ao chegar ao palácio encontrou uma multidão de pessoas e animais adormecidos. E depois de cruzar pátios e salões chegou ao quarto da Bela Adormecida. Ele não sabia nada da maldição…
… nem do beijo que a despertaria. Mas aproximou-se de tal forma pela jovem que, sem conseguir evitar, beijou-a.
Assim se quebrou o feitiço e tudo voltou à vida.
A primeira a acordar foi a princesa que ao ver aquele belo rapaz junto dela disse:
- Quanto tempo esperei por ti, meu príncipe.
Com estas palavras a jovem tinha dito tudo. A partir desse momento era altura de serem muito felizes.

Branca de Neve e os Sete Anões


Era uma vez uma princesa muito formosa. Mas a sua madrasta, a rainha, invejando a sua beleza, obrigava-a a vestir e a trabalhar como se de uma criada se tratasse.
- Diz-me, espelho mágico, quem é a mais bela do reino? – perguntava a malvada rainha todos os dias.
- Apesar de tudo – dizia o espelho – a tua enteada, Branca de Neve, é a mais formosa.
Cansada de ouvir esta resposta, a madrasta cruel ordenou a um caçador que levasse Branca de Neve até ao bosque e que aí a matasse.
- Toma este cofre – disse-lhe – e traz-me aqui dentro o coração da princesa.
Mas o caçador teve pena dela e deixou escapar a Branca de Neve.
Depois de caminhar muito pelo bosque, a jovem encontrou uma estranha casinha.
Dentro da casa não havia nada.
E, como estava um pouco suja e descuidada, Branca de Neve pôs-se a limpá-la. Num instante, ficou com tanto sono que adormeceu.
Afinal, os donos da casa eram sete anões.
E eles gostaram tanto da Branca de Neve e fizeram-se tão seus amigos, que lhe pediram que ficasse a viver com eles.
E foi assim que durante algum tempo a jovem foi muito feliz na casa do bosque.
Mas um dia a rainha voltou a fazer a pergunta ao espelho. E ao ver reflectido o rosto da Branca de Neve, ficou muito furiosa.
- Aquele caçador trouxe-me um coração falso!
Agora vou eu mesma tratar da Branca de Neve! – exclamou. E transformou-se numa velha.
Entretanto, sem saber o perigo que corria Branca de Neve despedia-se, como todas as manhãs, dos seus amigos.
- Eu vou, eu vou, trabalhar agora eu vou – cantavam os anões. E a jovem desejava-lhes um bom dia a cada um.
Pouco depois, a madrasta tocou à porta da casinha e ofereceu à jovem uma bela maçã.
Sem saber que estava envenenada, a Branca de Neve deu uma dentada na fruta, e nesse momento caiu como morta no chão.
Ao regressar do trabalho, os anões ficaram aterrorizados.
- Que vamos fazer agora? – perguntavam-se.
Por fim, depois de muito chorar, decidiram construir uma urna de cristal e lá colocaram a Branca de Neve.
Felizmente, passou por ali um jovem príncipe, e ao ver a jovem ali deitada, apaixonou-se por ela.
- Por favor, não enterreis essa urna! – suplicou o príncipe. – Deixem-me levá-la para o meu palácio! Mas, ao mover a urna, o pedaço de maçã saltou da garganta de Branca de Neve e a jovem voltou à vida.
A alegria reinou a partir desse momento.
Mudaram-se todos para o palácio do príncipe.
E ali se casaram os jovens e viveram felizes para sempre.

domingo, 22 de novembro de 2009

A Gata Borralheira

Era uma vez, uma jovem que era muito bela e atraente. O problema é que a sua madrasta, uma mulher muito invejosa e orgulhosa, obrigava-a a vestir-se como fosse uma mendiga e tratava-a como uma criada, entregando-lhe todas as tarefas domésticas. A pobre menina tinha sempre tão mau aspecto que as suas meias-irmãs lhe deram o nome de Gata Borralheira. - Gata Borralheira! Onde está o meu pequeno-almoço?
- Gata Borralheira! Passaste os meus vestidos a ferro?
As duas meias-irmãs, que eram tão más como a sua mãe, passavam todo o dia a dar ordens e a fazer a vida negra à pobre rapariga. E as coisas pioraram quando receberam um convite para ir a um baile no palácio real.
A Gata Borralheira também desejava muito ir a esse baile! Mas a sua madrasta não deixou.
- Como é que podes ir ao baile se nem sequer tens um vestido? - disse-lhes - E, além disso, o que faria uma maltrapilha como tu no palácio real?
E foi assim que, quando chegou a noite do baile, a jovem viu partir as três com os seus melhores vestidos, enquanto ela chorava inconsolável.
De repente, uma luz iluminou tudo, e uma personagem simpática apareceu em cena, dizendo...
- Pára de chorar, que está aqui a tua fada madrinha. Vejamos o problema... Queres mesmo ir a esse baile?
- É o que mais desejo. - disse a jovem.
- Oh, minha filha, isso para mim e para a minha varinha de condão é canja!
- Primeiro, precisas de uma carruagem.
Esta abóbora vem mesmo a calhar..., estes caracóis serão uns cavalos muito velozes...
... e estes pirilampos vão transformar-se nuns pajens reluzentes... e o que é que nos falta? Ah, sim, o vestido!
Aqui vai! Não acredito que esta noite haja no mundo alguém tão belo e radiante como tu!- Agora diverte-te, mas regressa antes da meia-noite, porque toda esta magia terminar à meia-noite em ponto.
Quando a Gata Borralheira chegou ao baile, o príncipe ficou tão impressionante que já não quis dançar com outra jovem sem ser ela.
Todas as outras presentes a olhavam com inveja, principalmente a madrasta e as suas filhas, que não deixaram de pensar por um momento que aquela desconhecida lhes lembrava alguém. De imediato, um relógio bateu a meia-noite.
A Gata Borralheira lembrou-se estão do aviso da fada.
- Lamento, alteza, tenho que ir embora! - exclamou.
E em seguida, abandonou o salão de baile tão depressa, que o príncipe nem teve tempo de reagir.
E, ainda que quisesse ir atrás dela, a única coisa que encontrou foi um sapato de cristal, que a Gata Borralheira tinha perdido quando fugia. Mas, tinha ficado tão enamorado da misteriosa desconhecida que, no dia seguinte, mandou ler em todo o reino um pregão.
O príncipe casar-se á com a jovem a quem sirva o sapato de cristal!
Um emissário foi experimentando o sapato de casa em casa. As meias-irmãs da Gata Borralheira tentaram calçá-lo, mas era impossível que servisse nos seus enormes pés.
Pelo contrario, quando a Gata Borralheira o experimentou, o seu pé entrou no sapato sem o menor esforço.
O príncipe tinha por fim encontrado a jovem por quem se tinha apaixonado!
Poucos dias depois, o casamento celebrou-se com grandes festas, às quais assistiram felizes todos os habitantes do reino.
Ou melhor, todos excepto três...

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O Comedor de Couves


A horta do senhor Jaime era o seu orgulho e alegria. Composta por filas ordenadas de cenouras, couves, feijão-verde, rabanetes e ervilhas, não se via uma erva daninha, uma lesma ou uma lagarta.
Uma manhã, o senhor Jaime apanhou um susto. As folhas de uma das couves haviam sido depenicadas! Na manhã seguinte, uma couve inteira foi comida. Nessa noite, o senhor Jaime preparou umas sandes e um termo com café e ficou no alpendre, a vigiar a horta.
Já a Lua ia alta, quando viu algo a saltar na horta. Era um coelho castanho que pulava, alegremente, pelas couves e as depenicava.
Momentos depois, encontrou-se, olhos nos olhos, com o senhor Jaime, que saíra devagarinho do alpendre para o apanhar.
- Que estás a fazer? - perguntou, zangado, ao coelho.
- Sou apenas um coelhinho pobre e esfomeado - soluçou o coelho -, e tentou sobreviver nestes tempos difíceis!
- Representas muito bem - comentou o senhor Jaime, a sorrir -, mas não me convences.
Não pareces muito esfomeado.
Na verdade, o comedor de couves era bastante gordinho. O coelho olhou, com astúcia, para o senhor Jaime e mudou de estratégia.
- Peço desculpa - disse, com humildade -, mas estas couves são as maiores, mais tenras, mais suculentas e deliciosas que eu já comi. Não consegui resistir-lhes.
- Hum! - murmurou o senhor Jaime, sentindo-se satisfeito.
- Não é comigo que se deve preocupar - continuou o coelho -, é com os meus primos. São centenas. Quando lhes falar destas couves...
O senhor Jaime olhou para o coelho, e este olhou para trás.
- E se eu plantar algumas couves muito, muito especiais, só para ti - propôs o lavrador -, achas que conseguirás afastar-te destas, que são tão normais?
- Se eu estiver ocupado a comer as suas couves muito, muito especiais, não terei tempo para olhar para estas - respondeu o coelho, a sorrir.
O senhor Jaime e o coelho vivem hoje felizes, lado a lado.
E o espertalhão do coelho está ainda mais gordinho.